Em português, o céu é azul e a grama é verde. Já em vietnamita, há apenas uma categoria de cor tanto para o céu quanto para a grama: xanh. Durante décadas, cientistas cognitivos apontaram tais exemplos como evidências de que a linguagem determina amplamente como vemos as cores. Porém, uma nova pesquisa com bebês de quatro a seis meses de idade indica que muito antes de aprendermos linguagens, vemos até cinco categorias básicas de matizes – um achado o qual sugere um componente biológico mais forte para a percepção de cores do que se achava anteriormente.
O estudo, publicado recentemente na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences USA, testou as habilidades de discriminação de cores de mais de 170 bebês britânicos. Pesquisadores da Universidade de Sussex na Inglaterra mediram quanto tempo os bebês gastaram olhando para as amostras de cores, uma medida conhecida como tempo de observação. Em primeiro lugar, a equipe mostrou às crianças uma amostra repetidamente, até que o tempo de observação deles diminuiu – sinal de que haviam ficado entediados. Então, os pesquisadores mostram uma amostra diferente e observaram as reações. Interpretaram que tempos de observação maiores significavam que os bebês consideraram a segunda amostra era uma nova matiz. Suas respostas cumulativas mostraram que fizeram distinção entre cinco cores: vermelho, verde, azul, roxo e amarelo.
A descoberta “sugere que todos estamos trabalhando a partir do mesmo modelo”, explica Alice Skelton, principal autora do estudo e estudante de doutorado de Sussex. “Você já vem preparado para fazer distinções [de cores], mas devido a sua cultura e sua linguagem, certas distinções podem ou não serem usadas.” Por exemplo, crianças aprendendo vietnamita provavelmente enxergam verde e azul, mesmo que sua língua nativa não utilize palavras distintas para as duas cores.
O estudo sondou sistematicamente a percepção de cores em bebês, revelando como percebemos as cores antes de termos as palavras para descrevê-las, diz Angela M. Brown, psicóloga experimental da Faculdade de Optometria da Universidade Estadual de Ohio, que não esteve envolvida com a nova pesquisa. Os resultados adicionam uma nova dobra no perene debate natureza-versus-criação e a chamada hipótese de Sapir-Whorf – a ideia de que a forma como vemos o mundo é moldada pela linguagem.
Em trabalhos futuros, Skelton e seus colegas estão interessados em testar bebês de outras culturas. “A forma como a linguagem e a cultura interagem é uma questão realmente interessante”, ela diz. “Ainda não conhecemos os mecanismos exatos, mas sabemos como começar.”
Jane C. Hu