Astrônomos amadores de Minas Gerais detectaram, às 22h22 da última quarta-feira, um corpo celeste, de aproximadamente 100 metros, que passou de raspão pela Terra. Eles logo enviaram alerta para uma rede ligada à União Astronômica Internacional (UAI), onde foi constatado que, caso houvesse colisão, um tsunami poderia ter sido formado no Oceano Índico.
Quando o asteroide foi visto pela primeira vez, no sábado, já estava a cerca de 2,4 milhões de quilômetros do planeta. A detecção foi feita pelo Siding Spring Survey, um programa australiano que faz o rastreamento de objetos próximos à Terra. Em seguida, a presença foi confirmada pelo International Astronomical Union Minor Planet Centre (MPC), órgão responsável pela catalogação de objetos no Sistema Solar. O pouco tempo entre a detecção e a passagem expôs a fragilidade dos sistemas de rastreamento existentes.
Batizado de 2009 DD45, o asteroide tem um tamanho estimado entre 21 e 47 metros de diâmetro. Comparado a outros que já passaram pelo planeta, é considerado pequeno pelos especialistas. Mas, para se ter uma ideia do tamanho do estrago que causaria, caso sua trajetória incluísse a Terra, em 1908 uma rocha de mesmo tamanho atingiu a Sibéria com um impacto equivalente ao de mil bombas atômicas – entre 10 e 15 megatons de TNT. Entre os destroços, 80 milhões de árvores foram arrasadas em uma área de 2 mil quilômetros quadrados perto do Rio Tunguska.
Conforme o coordenador do Laboratório de Astronomia da Faculdade de Física da PUCRS, Délcio Basso, a demora na detecção do asteroide pode estar ligada à sobrecarga no North American Aerospace Defense Command (Norad). O órgão americano é responsável por monitorar uma grande quantidade de objetos que estão em órbita ao redor da Terra. Entre eles, satélites, pedaços de foguetes, outros asteroides e até ferramentas perdidas por astronautas no espaço.
Ainda de acordo com Basso, as chances de o impacto ocorrer em áreas urbanas, no caso de um choque com o nosso planeta, seria relativamente pequeno. Segundo ele, o impacto provavelmente seria na água, que cobre cerca de três quartos da superfície da Terra, ou em áreas não habitadas. Se o meteoro caísse no oceano, um tsunami poderia se formar, atingindo, talvez, o litoral próximo. Apesar da potencial tragédia, o professor da PUCRS afirma que o corpo era pequeno, ou teria sido avistado mais cedo pela grande quantidade de profissionais e amadores que usam telescópios.
Sobre o impacto, Basso reforça que o ângulo de incidência na Terra seria decisivo para o tamanho da calamidade. Se o asteroide viesse rasante, explica, a atmosfera poderia se encarregar, naturalmente, de mandá-lo de volta para o espaço ou incinerá-lo. Uma queda na vertical, por sua vez, acarretaria estragos maiores. A composição do asteroide também influencia, pois, quanto menos denso, menor a potência do impacto.
Tocando o solo, o 2009 DD45 abriria uma cratera gigantesca – e provocaria uma onda de choque capaz de derrubar prédios e produzir incêndios. Uma cena mais comum nas telas dos cinemas
Segundo o responsável pela descoberta e engenheiro civil Cristóvão Jacques, diretor sócio do Observatório Austral para Pesquisas de Asteroides Próximos à Terra, o Asteroid 2019 OK viaja ao redor do Sol traçando uma velocidade entre 50 mil e 60 mil km/h e passou a 71,4 mil quilômetros de distância da Terra. Embora pareça muito, não é. Para comparação: a distância entre nosso planeta e a Lua é de 384 mil quilômetros.
Ainda de acordo com o especialista, o asteróide demora 2,7 anos para dar a volta completa ao sol e o fenômeno acontecerá novamente em 2035 e 2086. Jacques reforça também que, dependendo do ângulo de entrada no planeta e a composição do asteroides, o corpo celeste poderia destruir uma metrópole caso caísse em zona continental.