Após décadas de caça, astrônomos traçaram a origem de uma nova registrada pela primeira vez por astrólogos coreanos da realeza há quase 600 anos.
A descoberta é o mais antigo caso conhecido de uma explosão estelar identificada com precisão, segundo autores do novo estudo, e poderia lançar luz sobre a natureza das novas e na forma que cerca de ¾ de todas as estrelas evoluem.
Em 11 de março de 1437, astrônomos coreanos detectaram o que parecia ser uma nova estrela brilhante no céu noturno. Como registrado nos “Registros Autênticos do Reino do Rei Sejong”, uma crônica detalhada sobre o reinado do rei que comandou a Coreia entre 1418 e 1464, a explosão fica próxima a uma estrela no que hoje acredita-se ser a cauda da constelação de Escorpião. A explosão, agora conhecida como Nova Scorpii AD 1437, foi vista por 14 dias antes de desaparecer.
Os pesquisadores do estudo procuraram descobrir como a nova se parece agora – mas para fazer isso, eles precisavam identificar sua localização no céu atual.
“Passei mais de 30 anos caçando-a”, disse Michael Shara, principal autor do estudo e curador de astrofísica no Museu Americano de História Natural em Nova York.
Os detalhes da explosão da estrela sugeriram que era uma nova clássica – uma explosão nuclear que acontece em sistemas estelares binários. “Aproximadamente 75% de todas as estrelas estão em sistemas estelares binários”, disse Shara à SPACE.com.
Em uma nova clássica, um membro do sistema binário é uma anã branca – um núcleo super denso, do tamanho da Terra, de uma estrela morta que é deixado para trás após sua estrela esgotar todo seu combustível e perder suas camadas externas. O Sol e a maioria das estrelas parecidas com ele um dia se tornarão anãs brancas.
A nova ocorre após uma anã branca absorver muito combustível de sua estrela companheira, o que eventualmente leva a uma detonação nuclear.
Ainda se sabe muito pouco sobre as consequências das novas. Elas deixam suas estrelas intactas, diferentemente das supernovas mais poderosas. E uma vez que uma variável cataclísmica – a dupla de uma anã branca e sua companheira estrela – se torna uma nova, mais novas teoricamente podem explodir no futuro. Contudo, ignora-se muito ao modo como as variáveis cataclísmicas atuam entre eventos tipo novas, e os pesquisadores sabiam que encontrar os vestígios atuais de uma nova antiga poderia ajudar a esclarecer o ciclo de vida das estruturas.
Quando os pesquisadores observaram pela primeira vez, cerca de três décadas atrás, a região onde os registros parecem localizar a nova, não conseguiram encontrá-la: “acontece que estávamos olhando para o lugar errado”, disse Shara. “Quando se trata de analisar registros antigos, pode ser um desafio interpretá-los corretamente.”
“Nenhum dos registros antigos onde olhamos nos deram nomes ou números das estrelas na constelação”, acrescentou Shara. “Inicialmente, pensamos que a nova deveria estar localizada entre duas certas estrelas na constelação, quando a nova estava, na realidade, nas próximas duas estrelas. Quando afrouxamos nossos critérios quanto a onde procurar na constelação, encontramos a nova em 90 minutos.”
No novo estudo, os cientistas analisaram os dados coletados recentemente pelo Grande Telescópio Sul-africano e pelos telescópios Swope e du Pont do Observatório Las Campanas. Também examinaram versões digitais de placas fotográficas dos arquivos de Harvard, os quais capturaram mais de um século de imagens do céu.
Os pesquisadores descobriram uma concha de detritos provavelmente deixada para trás por uma nova na constelação de Escorpião. Quando calcularam os movimentos de estrelas nessa área, descobriram um sistema binário que estava na exata posição certa para criar essa concha há quase 600 anos.
As placas fotográficas de arquivo também revelaram que, nas décadas de 1930 e 1940, esse sistema binário emitiu erupções breves, menores e mais fracas, conhecidas como novas anãs. Essas descobertas sustentam uma idéia que Shara e seus colegas propuseram há cerca de 30 anos – que os sistemas binários que geram novas clássicas também geram novas anãs, além de não serem entidades separadas, como alguns já sugeriram anteriormente, disse Shara.
“A analogia que uso aqui é a de uma lagarta e uma borboleta”, disse Shara. “Se os seres humanos vivessem apenas alguns dias, não está claro que desvendaríamos o fato de que as lagartas e as borboletas são as mesmas criaturas – precisaríamos viver muito mais. Da mesma forma, a escala de tempo para passar de uma nova clássica para uma nova anã parece estar em algum lugar entre dois e cinco séculos.”
“Pensamos que uma nova antiga e uma nova anã são basicamente o mesmo sistema, visto apenas em diferentes estágios de desenvolvimento”, disse Shara. “Ao entender as novas clássicas e as novas anãs, espero que possamos entender melhor as estrelas binárias, que compõem a maioria das estrelas no universo.”
Pesquisas futuras podem investigar outras novas registradas na Antiguidade para aprender mais sobre sua evolução, segundo Shara. “Gostaríamos de encontrar ao menos meia dúzia de novas para nos permitir dizer com maior certeza se todas as novas clássicas se tornaram novas anãs”, disse ele.
Os cientistas detalharam suas descobertas na edição de 31 de agosto da revista Nature.
Charles Q. Choi, SPACE.com