Saltos usados para desorientar as presas são característicos do maior canídeo da América do Sul.
O lobo-guará, animal que estampará a cédula de 200 reais no final de agosto, tem uma forma peculiar de caçar.
Kennedy Borges, biólogo e analista ambiental , já havia presenciado o comportamento de caça do maior canídeo das Américas, mas conseguiu filmar a cena rara pela primeira vez no final de junho.
“Eu estava com um amigo caminhando pelo Cerrado de Aruanã, em Goiás, quando vi o lobo saltando. Na hora peguei a câmera e comecei a gravar a uma distância de mais ou menos 150 metros. Consegui me camuflar no alto de um aterro e o animal não me viu em nenhum momento. Foi incrível”, comenta Kennedy.
Os lobos-guarás têm em média 80 centímetros de altura, sendo os canídeos mais altos do mundo. Vivem em média 12 anos e podem pesar até 33 quilos. — Foto: Rogério Cunha de Paula/Acervo Pessoal
O lobo-guará, única espécie de lobo encontrada no Brasil, é considerado mundialmente como ‘Quase Ameaçado de Extinção’. 80% da população do animal vive em território brasileiro.
O biólogo, que é apaixonado pela natureza e pratica a fotografia de fauna e flora desde os anos 80, contou que durante 20 minutos o lobo conseguiu predar quatro roedores. “Depois de 12 saltos ele pegou a primeira presa e assim continuou. Pela minha contagem foram quatro ratos. Fiquei maravilhado com a cena, nem sentia os pés no chão”, finaliza.
Você sabia que o principal sentido usado pelos lobos-guarás na hora da caça é a audição? — Foto: Rogério Cunha de Paula/Arquivo Pessoal
As imagens exemplificam a tática do lobo-guará para conseguir se alimentar. Segundo o especialista em canídeos Rogério Cunha de Paula, esses animais, na verdade, têm a audição como a grande aliada na hora de encontrar as presas.
Eu costumo dizer que todo o processo é como se fosse uma dança que evoluiu há milhares de anos. Os lobos-guarás usam o olfato, mas principalmente a audição (com suas grandes orelhas) para caçar. Quando percebem as presas, saltam para desorientá-las e assim conseguem atacar com maior facilidade
— Rogério Cunha de Paula, especialista em canídeos.
Diferente dos outros lobos que andam em alcateias e costumam se alimentar de grandes presas, os lobos-guarás vivem sozinhos e comem diversas vezes durante o dia, normalmente animais pequenos e até a famosa fruta-de-lobo.
“Eles têm uma dieta muito diversificada. Comem insetos, cobras, roedores, pequenos mamíferos e até frutas. Por isso que conseguem se adaptar em diferentes regiões e até em diferentes biomas, apesar de ser nativo do Cerrado e gostar de campos abertos”, comenta Rogério.
Com a devastação do Cerrado, os lobos atualmente vivem também em partes da Mata Atlância, Amazônia e até Pantanal. — Foto: Rogério Cunha de Paula/Acervo Pessoal
Kennedy, que segue indo a campo todos os dias acompanhado da câmera atrás de novos flagrantes, acredita que todo ser vivo cumpre um papel na natureza e que é nosso dever garantir que todos eles sobrevivam. “A gente precisa conhecer os bichos para amá-los e lutar pela conservação das espécies. É o nosso papel”, finaliza.