Um terremoto de magnitude 7,1 atingiu a região central do México no dia 19 de setembro, matando mais de 100 pessoas e reduzindo construções a destroços nos estados de Puebla, Morelos e Guerrero, assim como na Cidade do México. O evento aconteceu 12 dias depois que um tremor de magnitude 8,1 atingiu o estado de Chiapas – o maior tremor no México em mais de um século – e 32 anos depois do dia seguinte ao terremoto mais danoso do país, com 8,0 de magnitude, que matou milhares de pessoas.
Assim como o recente terremoto em Chiapas, o tremor de 19 de setembro atingiu o meio da placa geológica de Cocos – em vez da extensão de sua borda, onde começa a mergulhar sob a placa Norte-Americana. O serviço nacional de sismologia do México identificou o epicentro do terremoto em uma profundidade de 57 quilômetros, perto da fronteira de Puebla e Morelos e a cerca de 120 quilômetros da Cidade do México. Ele aconteceu em uma falha “normal”, na qual uma parte da crosta da Terra se move mais alto do que a terra do outro lado.
Continua-se sem saber se os terremotos de 7 e 19 de setembro estão conectados – e se estão, de que modo. Eles estão muito afastados (cerca de 650 quilômetros) para o que o segundo seja considerado uma consequência do primeiro.
Procurando por pistas
Grandes terremotos podem aumentar os riscos a longo prazo de atividades sísmicas nas proximidades ao transferir o estresse dentro da crosta terrestre a falhas geológicas adjacentes. Contudo, esse tipo de transferência de “estresse estático” normalmente acontece apenas dentro de um raio igual a cerca de três ou quatro vezes o comprimento da ruptura das falha original, segundo Gavin Hayes, sismólogo do Serviço Geológico dos EUA em Golden, Colorado.
O terremoto de 7 de setembro rompeu cerca de 100 quilômetros da crosta, o que implicaria que sua transferência de estresse chegou a não mais de cerca de 300 a 400 quilômetros de distância, diz Hayes. Isso coloca o tremor de 19 de setembro, cujo epicentro estava a 50 quilômetros de distância, fora da zona de influência. “Porém, a coincidência de tempo torna isso bastante suspeito”, de acordo com Hayes. “Muitas pessoas pensarão que eles estão relacionados e haverá muito trabalho sobre isso.”
Outra possibilidade é que o terremoto de 19 de setembro seja um exemplo de “desencadeamento dinâmico”, no qual ondas sísmicas se agitando para fora do tremor afetam muito mais rapidamente as falhas – e em distâncias muito maiores – do que na transferência de estresse estático. Entretanto, o desencadeamento dinâmico geralmente acontece dentro de horas ou dias após o terremoto inicial, fazendo o intervalo de 12 dias entre o evento de 7 de setembro e o último grande tremor difícil de explicar, diz Eric Fielding, geofísico do Laboratório de Propulsão a Jato em Pasadena, Califórnia, que estudo desencadeamento dinâmico.
Terreno que se desloca
Sua equipe tem analisado imagens de radar via satélite da paisagem em torno do terremoto de 7 de setembro, procurando por mudanças no nível do solo que indiquem quais partes do local se elevaram e quais diminuíram como resultado do evento. Os dados vêm dos satélites de radar Sentinel da Agência Espacial Europeia e do satélite ALOS-2 do Japão. Nos próximos dias, a equipe de Fielding procurará por informações similares no terremoto de 19 de setembro. Imagens de radar podem ajudar a identificar para onde se transfere o estresse geológico no terreno após um terremoto.
A placa de Cocos começa o seu mergulho para baixo da costa oeste do México, e, então, achata-se por centenas de quilômetros antes de fazer um segundo e mais íngreme mergulho, indo para baixo da placa Norte-Americana. O terremoto de 19 de setembro aconteceu onde ocorre essa segunda curva, graças aos estresses geológicos acumulados onde o peso da placa em declive acentuado rebaixa na seção plana.
Grande parte da preocupação com o perigo sísmico no México se concentrou fora da costa oeste, onde a placa começa seu mergulho. Lá, no limite da placa, é onde o terremoto mortal atingiu em 1985, achatando construções – particularmente na Cidade do México, que é construída sobre uma base instável de sedimentos de lagos que secaram. O desastre levou o país a construir um sistema de alerta prévio de terremotos, o qual, em 19 de setembro, forneceu momentos cruciais de alerta para a população se preparar para o tremor.
Ainda há muitas “fendas sísmicas” na costa oeste do México, onde o estresse geológico feito pela placa que mergulhou ainda não foi liberado por um terremoto. Elas incluem a de Guerrero, próxima a Acapulco, considerar por muitos cientistas uma grande ameaça.
Estima-se que o número de mortos do terremoto de 19 de setembro aumente.
Alexandra Witze, Nature