Os cientistas acreditam que o caso extraordinário de um homem britânico de 23 anos com “um constante déjà vu” pode ter sido desencadeado pela ansiedade. É a primeira vez que essa conexão foi feita. Mas o que exatamente é o déjà vu? E sabemos realmente o que o causa?
A maioria de nós sabe como é – aquela sensação familiar de estar em algum lugar ou de já ter feito algo, quando o senso comum diz que não é possível.
O termo déjà vu é traduzido literalmente do francês como “já visto”.
Alguns pesquisadores acreditam que o déjà vu é causado por neurônios “disparando” no cérebro
De acordo com uma pesquisa, cerca de dois terços de nós experimentamos pelo menos um déjà vu em nossas vidas, mas muito pouco se sabe sobre o que o causa.
Um grupo de cientistas do Reino Unido, França e Canadá, que estudou o caso estranho do homem com “déjà vu crônico”, pensa que uma possível causa do fenômeno pode ser a ansiedade.
A condição do homem era tão persistente que ele evitava assistir televisão, ouvir o rádio e ler jornais porque achava que ele “já havia visto tudo antes”.
O Dr. Chris Moulin, um neuropsicólogo cognitivo da Universidade de Borgonha que trabalhou no estudo, diz que o homem tinha um histórico de depressão e ansiedade e já havia tomado a droga LSD na universidade, mas além disso, sempre foi completamente saudável.
“O caso desse homem é impressionante porque era jovem e consciente, mas completamente traumatizado por essa constante sensação de que sua mente estava fazendo truques consigo mesmo”, disse ele.
Ciclo de tempo assustador
Por alguns minutos, e às vezes até por mais tempo, o paciente se sentiria revivendo experiências. “Houve um dia em que ele foi ao cabeleireiro e, quando entrou no local, teve um sentimento de déjà vu. Aí ele teve o déjà do déjà vu. Ele não conseguia pensar em outra coisa”, disse o Dr. Moulin.
Por oito anos, o homem sentiu-se “preso em um ciclo do tempo”. Quanto mais angustiado ele se sentia pela experiência, pior ele ficava.
As análises cerebrais pareciam normais, sugerindo que a causa era psicológica e não neurológica.
Embora este caso por conta própria não prove um vínculo entre a ansiedade e o déjà vu, levanta uma questão interessante para um estudo mais aprofundado, diz o Dr. Moulin.
Uma teoria é que o déjà vu é uma espécie de “bug cerebral“, disse o Dr. Akira O’Connor, da Universidade de St. Andrews.
Ao contrário de muitos outros problemas de memória, o déjà vu parece ocorrer mais em jovens.
As pessoas primeiramente experimentam déjà vu com a idade de cerca de seis ou sete anos, e acontece com mais frequência entre os 15 e 25 anos, diminuindo a intensidade com o envelhecer, de acordo com pesquisas do professor Alan Brown na Universidade Metodista do Sul, em Dallas.
O Dr. Akira O’Connor, uma psicóloga da Universidade de St. Andrews, acredita que, na maioria dos casos, é um “disparo” momentâneo de neurônios no cérebro que cria conexões falsas.
“Uma ideia é que o déjà vu é uma espécie de “contração do cérebro”. Assim como nós temos espasmos musculares, ou contrações nos olhos, pode ser que o pouquinho do seu cérebro que envia sinais de familiaridade e memória esteja disparando,” disse ele.
Ele diz que isso se encaixa com a evidência de que déjà vus são mais frequentemente experimentados por pessoas com epilepsia e demência.
Um belo mistério
Não se sabe quantas pessoas sofrem com a versão “crônica” do déjà vu, mas o Dr. Moulin encontrou casos antes com alguns pacientes, mesmo insistindo que já o conheciam por causa de seus déjà vus.
“As pessoas recebem você como um velho amigo, mesmo que nunca o tenham visto antes. Alguns deles estavam no Skype no outro lado do mundo, mas eles ainda tinham essa sensação”, diz ele.
Uma vez que os relatos do homem de 23 anos apareceram nos jornais, a autora do estudo, a Dra. Christine Wells, da Universidade Sheffield Hallam, diz que mais pessoas estão se apresentando.
“Pessoas da Austrália e da América me enviaram e-mails. Parece ser algo bastante raro, mas há pessoas que dizem que estão experimentando isso, ou passaram por um período ou conhecem alguém que esteja”, ela disse.
Ela diz que é uma área que precisa de “muito mais estudo”, mas para alguns, é um fenômeno que deve permanecer inexplicado.
Segundo o Dr. O’Connor: “Algumas pessoas dizem que eu não deveria investigar, pois, explicar o arco-íris arruína a beleza dele. Pessoalmente, eu sempre amei ter um déjà vu – e acredito que descobrir o que causa isso torna a experiência ainda mais bonita”.
[BBC]