Uma equipe de mais de 200 pesquisadores, incluindo Jason Wright, professor assistente do Departamento de Astronomia e Astrofísica da Universidade Estadual da Pensilvânia, e Tabetha Boyajian, astrônoma da Universidade Estadual da Louisiana, ambas nos Estados Unidos, parece ter solucionado o mistério por trás da “estrela mais enigmática do universo”, a KIC 8462852.
Essa estrela, que é 50% maior e 1.000ºC mais quente que o nosso Sol, é conhecida por perder parte de seu brilho esporadicamente, porém as ocorrências são tão singulares, que vem chamando a atenção dos astrônomos desde a sua descoberta, em 2015. Desde então, surgiram inúmeras hipóteses, sendo que a mais controversa delas, sem dúvida alguma, foi a possibilidade aventada de uma megaestrutura alienígena orbitando a estrela, a famosa “Esfera de Dyson”.
O mistério em torno da mesma foi tanto, que mais de 1.700 pessoas doaram dinheiro através de uma campanha de financiamento coletivo no Kickstarter, e cerca de US$ 100.000 foram utilizados para pagar pelo tempo de utilização de um telescópio terrestre e, dessa forma, reunir mais dados sobre a estrela. Como resultado, um conjunto de dados coletados por Tabetha Boyajian e seus colegas, em parceria com o Observatório de Las Cumbres, está disponível em um novo estudo publicado recentemente no periódico “The Astrophysical Journal Letters”. De acordo com Jason Wright, co-autor do estudo, a equipe estava esperando que, ao observar uma diminuição do brilho da estrela em tempo real, eles pudessem ver se todas as reduções tinham a mesma profundidade em todos os comprimentos de onda. Se fossem quase iguais, isso sugeriria a existência de algo opaco, como um disco, planeta, estrela ou até mesmo grandes estruturas no espaço. Em vez disso, a equipe descobriu que a estrela perdeu muito mais brilho em alguns comprimentos de onda do que em outros. E isso descarta completamente a hipótese de uma estrutura extraterrestre.
Segundo Tabetha Boyajian, a provável razão pela qual a luz da estrela parece enfraquecer ou aumentar esporadicamente é bem mundana: poeira. Os novos dados mostram que diferentes cores da luz estão sendo bloqueadas em diferentes intensidades. Portanto, o que quer que seja que passa entre nós e a estrela não é opaco, como seria esperado de um planeta ou de uma megaestrutura alienígena. Os pesquisadores observaram atentamente a estrela através do Observatório de Las Cumbres entre março de 2016 e dezembro de 2017. A partir de maio de 2017, houve quatro episódios distintos, quando a estrela perdeu parte de seu brilho. Uma vez que a estrela está a aproximadamente 1.000 anos-luz de distância, o que vemos atualmente ocorreu há 1.000 anos atrás, e foram quase certamente causados por algum comum, pelo menos em uma escala cósmica.
De qualquer forma isso não torna a estrela KIC 8462852 menos interessante. De acordo com Jason Wright, este último estudo exclui as megasestruturas alienígenas, mas levanta a plausibilidade de outros fenômenos por trás da diminuição do brilho da estrela. Além disso, a contribuição financeira das pessoas, sejam estudantes, médicos, advogados, cientistas cidadãos ou astrônomos profissionais foi de fundamental importância para a elaboração desse novo estudo, e sinaliza uma nova era na Astronomia.
A diminuição e o aumento esporádico de seu brilho, sem um padrão regular ou previsível, como ocorreria se planetas orbitassem ao seu redor, não se deve à presença de uma estrutura artificial, mas a uma enorme nuvem de poeira que, de tempos em tempos, torna sua luz mais opaca.
Os cientistas dizem que o pó estelar pode ter sido produzido por uma colisão de dois cometas ou a ruptura de um deles. Outra explicação possível, embora menos provável, é que a estrela esteja passando por uma espécie de convulsão desconhecida.
Público curioso
Localizada a cerca de 1,5 mil anos da Terra, com um tamanho 50% maior do que o do Sol e com uma temperatura 1.000ºC superior, a estrela deixou muitos cientistas confusos quando foi observada uma redução de 20% no seu brilho em uma ocasião e, depois, de 15%.
São esperadas normalmente reduções regulares e de uma intensidade bem menor. No caso de Tabby, esses eventos podiam durar de cinco a 80 dias.

Foi surpreendente não só a irregularidade desse fenômeno, mas o grau de diminuição da luz. Para se ter uma ideia, se um planeta grande passasse diante da estrela, sua luz seria bloqueada em apenas 1%.
A possibilidade de uma intervenção extraterrestre entusiasmou o público, que contribuiu com mais de US$ 100 mil (R$ 323,7 mil) por meio de uma campanha de financiamento coletivo para que a investigação do fenômeno prosseguisse.
Assim, Tabetha Boyajian, professora da Universidade do Estado da Louisiana, nos Estados Unidos e autora da descoberta, observou Tabby com sua equipe entre março de 2016 e dezembro de 2017, período em que foram registrados quatro destes eventos.
Os episódios foram mais fracos do que no passado, e distintos comprimentos de onda de luz foram afetados em graus diferentes, o que foi a chave para determinar que não eram provocados artificialmente.

Se a estrela tivesse um objeto sólido à frente, este teria bloqueado todos os comprimentos de onda ao mesmo tempo. Os registros de Tabby apontavam para a forma típica como a luz se comporta quando atravessa uma nuvem de poeira.
Os resultados da pesquisa serão publicados na revista The Astrophysical Journal Letters. Mas nem todos os mistérios de Tabby já foram solucionados.
Ainda não está clara a origem deste pó estelar nem se a nuvem de poeira orbita em torno da estrela ou se está vindo de algum outro lugar.
Fontes:
http://www.dailymail.co.uk/…/New-data-debunks-alien-megastr…
https://phys.org/…/2018-01-alien-megastructure-dimming-myst…