Ao norte de Madagascar, na África, encontra-se o Atol de Aldabra, um recife de corais com uma das histórias mais espantosas já conhecidas. Ali, reapareceu uma ave que havia sido extinta há 136 mil anos, quando o local foi inundado. Mas como essa volta aconteceu?
O que explica esse fenômeno é um raro processo natural chamado de evolução iterativa. Há milhares de anos, essa ave, com o nome científico de Dryolimnas cuvieri, voou de Madagascar até Aldabra, onde viveu por muito tempo. A espécie evoluiu de tal maneira que perdeu a capacidade de voar, pois a pequena ilha onde vivia não tinha predadores naturais, criando uma subespécie, chamada Dryolimnas cuvieri aldabranus. Assim, quando o atol foi inundado pelo Oceano Índico, todos os espécimes desapareceram.
Porém, cem mil anos depois, o atol ressurgiu após uma era glacial baixar o nível do mar. Então, a espécie original de Madagascar voou de volta para povoá-lo. E, como havia acontecido anteriormente, a espécie perdeu a capacidade de voar, ressurgindo assim a subespécie extinta.
De acordo com os cientistas, esse tipo de fenômeno é extremamente inusitado. Os pesquisadores observaram que uma espécie de iguana e vários lagartos também recolonizaram o atol, mas a maioria dessas espécies se perdeu posteriormente, provavelmente devido à introdução de ratos negros invasivos.
As espécies de Dryolimnas cuvieri de Madagascar conseguiram dar origem a duas diferentes subespécies que não voam. Isso é bem incomum. Cientistas da Universidade de Portsmouth e do Museu de História Natural, ambos no Reino Unido, chegaram a essa conclusão depois de analisar fósseis da ave de antes e depois da inundação.
“Este cenário pode parecer surpreendente, mas os Dryolimnas cuvieri são conhecidos por serem colonizadores persistentes de ilhas isoladas e podem evoluir rapidamente sem a necessidade de voar, caso existam condições adequadas”, escrevem os autores do estudo no periódico Zoological Journal of the Linnaean Society. “Portanto, é provável que a dispersão de Dryolimnas de Madagascar para a remota Aldabra tenha ocorrido em várias ocasiões.”
O arquipélago de Seychelles é um dos poucos refúgios preservados no planeta. Com cerca de 50% de sua área terrestre protegida, o destino se preocupa em conservar sua riqueza natural. Um de seus maiores exemplos de conservação é Aldabra, um atol remoto localizado a 1.150 km a sudoeste de Mahé, a principal ilha do país.
Com uma área terrestre de aproximadamente 155 Km² – e uma área total protegida de 2.559 Km² -, Aldabra é um dos maiores atóis de corais elevados do mundo, com mais de uma dezena de ilhas margeando uma enorme lagoa. Por ser um local excepcional e intocado, Aldabra se tornou um Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1982, além de integrante da lista da Ramsar. As ilhas do atol possuem uma vasta gama de flora e fauna únicas, com espécies raras ou ameaçadas, bem como a maior população mundial de tartarugas gigantes, com 150.000 animais, e sua lagoa possui a vida marinha mais vibrante de todo o arquipélago.
“Somente em Aldabra, que tem o registro paleontológico mais antigo de qualquer ilha na região do Oceano Índico, há evidências fósseis disponíveis que demonstram os efeitos da mudança do nível do mar em eventos de extinção e recolonização”, explicou David Martill, professor da Universidade de Portsmouth.
“Estes fósseis únicos fornecem provas irrefutáveis de que um membro da família de Dryolimnas cuvieri colonizou o atol, provavelmente vindo de Madagascar, e tornou-se independente de voar em cada ocasião”, acrescentou Julian Hume, do Museu de História Natural. “Isso sintetiza a capacidade dessas aves de colonizar ilhas isoladas e evoluir para a ausência de voo em múltiplas situações. ”
Fontes: BBC e IFLScience
Imagem: Charles J Sharp, via Wikimedia Commons