Pesquisadores do Centro de Medicina de Michigan encontraram razões para explorar os efeitos surpreendentes do medicamento zolpidem, que foram observados fora do escopo da primeira aprovação por parte do FDA, o órgão do governo norte-americano responsável pelo controle de alimentos e medicamentos. Os resultados estão num artigo de revisão sistemática publicado na revista científica JAMA Neurology.
“Vimos um efeito dramático em uma pequena quantidade de pacientes com uma variedade de problemas”, diz Martin “Nick” Bomalaski, médico residente no Departamento de Medicina Física e Reabilitação do Centro, que é ligado à Universidade de Michigan. Para realizar esta pioneira revisão sistemática do efeito singular, ele passou dois anos vasculhando todos os estudos de caso e pequenos testes que já foram publicados.
A maioria dos pacientes que respondeu ao zolpidem por distúrbios neurológicos que não a insônia apresentou um transtorno da consciência ou um transtorno do movimento, relatou Bomalaski. Isso inclui aqueles em comas e estados vegetativos, e outros com doença de Parkinson e distonia. Além disso, pacientes que sofreram AVCs ou lesões cerebrais traumáticas, ou pacientes com demência, receberam o medicamento para tratar de uma série de sintomas, incluindo afasia, apatia e coordenação motora. No total, mais de 20 distúrbios neurológicos fizeram parte do estudo.
Efeitos significantes, porém transitórios
Para a maioria dos pacientes que experimentaram melhoras após tomar zolpidem, os efeitos tendiam a durar de uma a duas horas, mas eram repetíveis. Dependendo do problema, foram relatados progressos na recuperação de coma, distonia, doença de Parkinson e outras escalas que medem habilidades motoras, auditivas e verbais. Alguns pacientes evoluíram para um estado de consciência mínima, enquanto outros até tentaram falar com seus entes queridos talvez pela primeira vez em anos. Os resultados de neuroimagem funcional de alguns pacientes também melhoraram.
“Este é um daqueles paradoxos estranhos em que os efeitos de uma droga para insônia parecem ter o efeito oposto para pacientes com paralisia ou condições neurológicas”, diz o co-autor Mark Peterson, professor assistente de medicina física e reabilitação e membro do Instituto de Saúde e Inovação e do Programa de Pós-Graduação em Neurociências da Universidade de Michigan. Algumas famílias solicitam zolpidem depois de encontrarem online algum estudo de caso ou artigo de notícias. porque eles sentem que não há outras opções reais para seus entes queridos.
Contudo, o zolpidem não funciona com todo mundo. A taxa de resposta nos artigos revisados foi entre 5 e 7% para pacientes com distúrbios de consciência, e mais de 24% ou até mais para pacientes com distúrbios de movimento. Para as pessoas nesse estudo, o efeito colateral mais comum visto foi que o zolpidem sedava de fato os pacientes, assim como seria visto no uso regular da medicação. Isso aconteceu em 13 dos 551 pacientes na revisão sistemática.
A primeira revisão sistemática
Bomalaski tratou muitos pacientes afetados com esses distúrbios de consciência e achou os relatos de caso de existência bastante interessantes.
“Vi como essas condições afetavam suas funções e qualidade de vida”, ele diz. “Ver que algo tão simples como uma dose comum de um remédio para dormir fez, em 15 minutos, uma pessoa em estado vegetativo acordar me pareceu extraordinário – e eu queria prosseguir com isso.”
A pesquisa inicial apresentou mais de 2300 artigos únicos. Após avaliar os resumos, a equipe de Bomalaski reduziu os artigos para 89. Outro exame incluiu uma leitura completa desses 89 artigos, levando a uma revisão sistemática de 67 deles. A maioria é considerada com baixo nível de evidência, incluindo relatos de caso e pequenos testes de intervenção.
Bomalaski revisou os 67 artigos para tipo de desordem, dosagem de zolpidem, frequência, efeito e quaisquer efeitos adversos. Apenas 11 dos estudos possuíam mais de dez participantes, mas, somando-se todos, foram 551 participantes.
Orientação para pesquisas futuras
“Esse tipo de relatório nos traz mais perguntas que respostas, embora algo assim realmente sirva como fundação para orientar uma grande teste clínico”, diz Peterson. O próximo passo é estudar segurança e eficácia, segundo os autores.
Outro tópico para mais pesquisas é analisar se os efeitos do zolpidem dependem da parte do cérebro que está lesionada. Os pesquisadores relatam que os efeitos único de zolpidem podem estar presentes em pacientes cujos gânglios basais, os quais ajudam a processar informação para executar uma ação, não estão mais funcionando corretamente.
“Os efeitos restauradores nos gânglios basais podem superar os efeitos hipnóticos no córtex frontal”, diz Bomalaski, que está indo para Universidade de Washington com uma bolsa em lesões cerebrais.
“Ainda precisamos aprender muito mais para responder às perguntas sobre se deveríamos estar usando isso em nossa prática clínica.”
Centro de Medicina de Michigan – Universidade de Michigan