Lançado pela Nasa, o satélite TESS vai passar dois anos mapeando planetas que orbitam estrelas próximas do Sistema Solar
Antes de 1992, os astrônomos só podiam acreditar na existência de exoplanetas. Foi em 1992 que foi anunciada a descoberta do primeiro planeta extrassolar, o PSR B1257+12, a cerca de 2,3 mil anos luz da Terra. Atualmente, há um grande número de exoplanetas descobertos. A Enciclopédia de Planetas Extrassolares lista atuais 3.767, com milhares de outros ainda aguardando confirmação.
Essa rede de descobertas fez da ciência exoplanetária um dos campos mais empolgantes da astronomia. Mas também é frustrante, pois a maioria desses planetas está tão distante que, além de sua existência, pouco pode ser aprendido sobre eles. Os dados são limitados às órbitas nas quais eles se localizam, assim como estimativas de seus tamanhos e massas.
Isso está prestes a mudar. Na última quarta-feira, 18, um satélite de mapeamento de exoplanetas chamado Transiting Exoplanet Survey Satellite (TESS) foi lançado em órbita em Cabo Canaveral, na Flórida. O TESS é projetado para examinar quase todo o céu, procurando evidências de planetas em torno das estrelas mais próximas (e, portanto, mais brilhantes) – em outras palavras, que são mais fáceis de estudar com mais detalhes.
Ao longo de sua missão de dois anos, o TESS irá observar cerca de 200 mil estrelas mais próximas da Terra, observando redução no brilho geradas por planetas que passam em sua frente – conhecido como método de trânsito. No entanto, supondo que a vizinhança cósmica da Terra seja semelhante à média galáctica, o TESS deve encontrar cerca de 3 mil planetas.
A ideia é fornecer uma lista dos planetas mais interessantes para observações e acompanhamento por outros instrumentos usando outros métodos. Um desses métodos é medir a oscilação que a gravidade do planeta causa em sua estrela-mãe quando a orbita. Tais medições revelam a massa de um planeta. Como o método de trânsito do TESS revela o tamanho de um planeta, os dois juntos fornecem informações suficientes para calcular sua densidade e, portanto, deduzir se ele é feito de rocha ou gás. Vários telescópios em todo o mundo estão sendo atualizados com essas observações assistidas pelo TESS.
Com base nos dados existentes, cerca de 500 dos 3 mil planetas que o TESS deverá encontrar provavelmente serão rochosos com raios com até o dobro do tamanho da Terra. Desses, duas dúzias poderiam orbitar na zona habitável de suas estrelas-mãe, onde as temperaturas são adequadas para a existência de água líquida em suas superfícies.
Como a água líquida é requerida por todas as formas de vida terrestre, procurá-la no cosmos é um bom ponto de partida na busca pela vida extraterrestre. E como os planetas do TESS estarão tão próximos da Terra, deve ser possível verificar se eles realmente têm água, e não apenas se existe a possibilidade.
Uma nova geração de instrumentos – incluindo telescópios terrestres e o Telescópio Espacial James Webb, com previsão de lançamento em 2020 – será capaz de observar a luz das estrelas que passou pela atmosfera de um planeta a caminho de Terra, e daí estudar a composição química do ar do exoplaneta. A presença de certos gases seria indício de que os planetas em questão poderiam ser habitáveis. A presença simultânea de metano e oxigênio, por exemplo, tornaria o planeta ainda mais interessante, pois esses dois gases reagem em conjunto rapidamente e precisariam, portanto, de constante renovação para coexistir.
Pode ser possível tirar fotografias dos planetas mais próximos. Isso poderia mostrar detalhes gerais da geografia, como quanto da superfície de um corpo rochoso é coberto por líquido e quanto por terra. Conseguindo, em um espaço de menos de 30 anos, passar da total falta de conhecimento sobre exoplanetas para ter a capacidade de fazer mapas deles seria uma façanha de proporções extraordinárias.
Fontes:
The Economist-The search for exoplanets moves to Earth’s back yard