A sonda Cassini tem ganhado muitas manchetes. E não é para menos. No dia 26 de abril, começou a etapa final da missão da sonda, que já opera há mais de 12 anos em Saturno. Ela deu seu primeiro mergulho em uma região pela qual nenhuma outra sonda jamais tinha se aventurado: o espaço de cerca de dois mil quilômetros que separa o planeta de seu sistema de anéis.

Nesse voo rasante, Cassini coletou sons que deixaram os cientistas de cabelo em pé. Os dados recém-obtidos revelam que essa área é muito mais “vazia” do que se esperava. Os tais sons, vale frisar, em nada se assemelham com o que estamos acostumados aqui na Terra: são uma espécie de “adaptação sonora” das ondas de rádio e de plasma captadas pelas antenas da sonda. Não seria possível ouví-los de fato por lá.
Para ouvidos leigos, os barulhos não passam de chiados e estalos embalados por uma estática que deixa tudo meio bizarro. Mas os pesquisadores já estão acostumados e conseguem extrair dali um bocado de informação. Como o espaço é um ambiente repleto de partículas carregadas, normalmente o que se ouve é algo similar a apitos e rangidos mais agudos. Quando matéria sólida bate nos sensores, elas emitem estalos.
No curto período em que Cassini passou pela fina espessura dos anéis de Saturno, os estalos eram abundantes, indicando a presença de algo em torno de cem partículas por segundo. Ao chegar na região intermediária entre o gigante gasoso e os anéis, porém, não se ouvia quase nada além dos apitos. Ou seja: há muito menos matéria ali do que os cientistas previam.
-> Ouça os sons coletados pela sonda Cassini no mergulho de 26 de abril:
“Foi um pouco desorientante, não estávamos ouvindo o que esperávamos ouvir”, disse em comunicado da NASA o pesquisador William Kurth, da Universidade de Iowa e líder do experimento que obteve os resultados. “Ouvi várias vezes os nossos dados do primeiro mergulho e provavelmente posso contar nas mãos o número de impactos de partículas de poeira”, completa Kurth.
E mesmo as poucas remanescentes são minúsculas. Segundo a NASA, elas são do tamanho das partículas presentes na fumaça. É por isso que os astrônomos já começaram a se referir à misteriosa região como “O Grande Vazio”.
Recentemente, a sonda realizou seu segundo mergulho entre Saturno e os anéis. Ela ainda fará outros 20 até setembro, quando se incinerará na atmosfera saturnina. Os dados que vai coletar devem resolver este e outros mistérios — e ainda darão muito o que falar até que a missão Cassini se encerre de forma épica.