Três mil quilômetros envoltos por cenários de floresta, tons azulados de mar e cachoeiras e por uma presença constante vida selvagem diversificada. Esse combo de natureza é a proposta do Caminho da Mata Atlântica, trilha de longo percurso que irá conectar os cânions do Parque Nacional dos Aparados da Serra, no Rio Grande do Sul, até a Serra do Mar no Parque Estadual do Desengano, no Rio de Janeiro – passando, inclusive, pelos estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo.
Organizado pelo movimento Borandá – iniciativa encabeçada pela WWF-Brasil que congrega diversos órgãos ambientais, instituições governamentais, federações de montanhismo e outros parceiros pela conservação da natureza – , o projeto ecológico cruzará 70 Unidades de Conservação e mais de 70 municípios entre as regiões Sul e Sudeste.
Grande parte do percurso será composto por trilhas menores profissionais já existentes e conhecidas, tais como a Trilha do Ouro (RJ) e a Janela da Conceição (PR), por exemplo.
“A ideia de se criar uma trilha de longo percurso é estimular as pessoas a conhecerem os ambientes naturais, pois isso as sensibiliza a pensar na importância da preservação e manutenção desses espaços”, conta o biólogo Ernesto Castro, chefe do Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, e idealizador do Caminho da Mata Atlântica.
“Essa é também uma estratégia que fortalece economicamente iniciativas de pequenos operadores de turismo e de comunidades locais”, adiciona o ambientalista, que se inspirou na trilha estadunidense Caminho dos Apalaches para desenvolver o novo projeto.
Construção da trilha
Castro apresentou seu projeto da megatrilha durante o Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, em 2012. Logo angariou apoio da WWF-Brasil, que criou o movimento Borandá e congregou membros para a comissão organizadora da trilha.
Em cada um dos cinco estados por onde passa, o Caminho da Mata Atlântica conta com grupos regionais que realizam oficinas e mutirões voluntários para sinalizar e demarcar o percurso da trilha. Por enquanto, cerca de 80% da megatrilha já está sinalizada e pronta para ser percorrida.
No entanto, ainda há trabalho a ser feito. Apesar de já existir um eixo principal pré-definido, as organizações locais de cada estado e município estão sugerindo alternativas para adicionar à trilha, que deverá atingir 3,8 mil km de extensão: “As ONGs e órgãos regionais têm certa autonomia para decidir mudanças pontuais no traçado caso identifiquem uma atração interessante. Estamos mantendo um banco de dados com atualizações”, explica Castro.
Vale ressaltar, porém, que realizar o Caminho da Mata Atlântica por completo é tarefa recomendada apenas para profissionais, já que o percurso todo tem estimativa de durar 200 dias. Segundo os organizadores do projeto, o objetivo é que os interessados optem por realizar trechos menores em períodos de férias ou em feriados, por exemplo.
Apesar de grande parte da trilha ser composta de caminhadas, haverá trechos para bikes, cavalos e até barcos.
“Incentivamos os interessados a se informarem sobre as condições em nossos sites antes de empreender viagem.”, aconselha o porta-voz.
Preservação ambiental
Como o nome já indica, a megatrilha é marcada pelo bioma da Mata Atlântica, um dos ecossistemas mais diversos e ameaçados em todo o mundo.
Além de servir de casa para mais de 150 milhões de pessoas em 17 estados brasileiros, a Mata Atlântica é também habitat de diferentes espécies de fauna e flora – muitas das quais são endêmicas na região. Por exemplo, há mais de 20 mil espécies de árvores, mais de mil aves, cerca de 340 anfíbios e 270 espécies de mamíferos.
Apesar de toda sua importância ecológica, atualmente, o bioma está reduzido a apenas 8,5% de sua cobertura vegetal.
É por isso que Castro e todos os membros do movimento Borandá enxergam o Caminho da Mata Atlântica não somente como uma alternativa de ecoturismo no país, mas como uma forma de conscientização popular para a conservação ambiental.